Sai século, entra século, e minhas fábulas continuam atuais. A natureza humana segue a mesma, com pequenas variações. O que mudou substancialmente foi a moral. Aquilo que minhas histórias exemplares nos ensinavam caducou. Diria mais: hoje a moral é mais flexível, varia de acordo com a ocasião. Razão pela qual decidi recontar aqui duas de minhas mais famosas fábulas, atualizando somente a parte conclusiva.
A raposa e as uvas
Uma raposa encontra uma parreira com uvas maduras. Passa horas tentando pegá-las e nada. Desiste e vai embora dizendo que não as queria mesmo, porque as uvas estavam verdes. Logo em seguida, escuta um ruído como se alguma coisa tivesse caído no solo. Volta correndo pensando serem as uvas, mas vê que era apenas uma folha que caiu da parreira. Decepcionada,
vira as costas e vai embora como um ar importante.
Antiga moral da história:
Quem desdenha quer comprar.
Nova moral autoajuda:
Se o seu desejo não se concretizou, é porque você no fundo não o desejava tanto assim. Da próxima vez, leve uma escada.
Nova moral sustentável:
Mesmo que não seja a sua vontade, preserve o verde.
O Leão e o Rato
Leão dormia em seu covil, quando um rato passou por cima de seu focinho e o acordou. O leão rosnou, furioso, e já pronto para devorá-lo ouviu o rato suplicar: - Por favor, não me mate. Não fiz por mal e também não presto para comer. Além disso, se me poupares agora, talvez um dia eu possa te ser útil. O leão teve um ataque de riso e em seguida libertou o rato. Passado um ano, o leão estava caçando na floresta quando caiu numa armadilha. Uma rede o prendeu. Desesperado, começou a rugir. O rato, que estava nas imediações, reconheceu a voz do leão e correu para onde ele estava. E vendo a situação, disse:
- Calma, leão, vou te tirar dai, rapidinho. E logo se pôs a roer as cordas rede. Pouco tempo depois, o leão estava solto.
Antiga moral da história:
Uma boa ação ganha outra.
Nova moral internética:
Um mouse opera milagres.
Nova moral tributária:
Se o leão tentar te pegar, faça uma boa declaração se não a malha fina te dará trabalho.
A cigarra e a formiga
A cigarra passou o verão inteiro cantando. No final da estação, apavorou-se com o frio que se acercava. Sem ter estocado alimentos, moscas, vermes e outras delícias, não tinha como enfrentar o rigoroso inverno. Com fome, foi bater na porta da formiga, incansável trabalhadora, com a intenção de lhe pedir um empréstimo de grãos. A cigarra prometeu devolver tal empréstimo com juros e correção ao final da estação fria. Só que a formiga não gostava de emprestar. E desconfortável com o pedido que recebeu, perguntou à cigarra:
"O que você fazia no calor de outrora?"
E a cigarra respondeu:
“Noite e dia eu cantava".
A formiga então encerrou a conversa:
- Você cantava? Que beleza! Então, agora dança.
Antiga moral da história:
Não pense só em se divertir. Trabalhe e garanta o seu futuro.
Nova moral mercadológica:
Nesta era do download, tá cada vez mais difícil fazer dinheiro com música.
Nova moral financeira:
Se tens a oportunidade de oferecer um empréstimo a juros altos, não perde teu tempo dando lição de moral.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
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